A Mulher Que Morreu de Pé


Competição Longas Metragens
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SÁB 2 NOV · 21H30 · Cinema São Jorge, Sala 3
COM A PRESENÇA DA REALIZADORA 
e MEMBROS DA EQUIPA

A MULHER QUE MORREU DE PÉ THE WOMAN WHO DIED STANDING

Rosa Coutinho Cabral 
Portugal · Doc. · 2024 · 115’ 

A Mulher que Morreu de Pé, mais do que  um documentário ficcionado , é um casting poético com actores que  deambulam entre um filme e um peça de teatro, que conta com  alguns amigos de Natália Correia, e com a máquina documental  do seu enorme arquivo,   permitindo-me fazer uma longa viagem, poética e emocional, à procura da minha Natália,
“A Mulher que Morreu de Pé (The Woman Who Died Standing), is less a fictional documentary than a poetic casting with actors who wander between a film and a play. It includes some friends of Natália Correia and the documentary machine of her huge archive, allowing me to go on a long poetic and emotional journey, in search of my own Natália.”

Argumento Screenplay Rosa Coutinho Cabral
Produção Production António Cabral, Rosa Coutinho Cabral, Leonor Cabral
Fotografia Cinematography Susana Gomes
Montagem Editing Francisco Costa, Rui Mourão, Rosa Coutinho Cabral
Música Music José Carlos Pontes
Som Sound Raquel Jacinto,  Raúl Resendes 
Com With Paula Guedes, Soraia Chaves, Joana Seixas, João Cabral, Leonor Coutinho  Cabral, Hugo Amaro, João Araújo, Alexandra Sargento, Leonor Cabral, Maria Galhardo,  Carlos Melo Bento, Victor Meireles, Ângela de Almeida, Rosa Coutinho Cabral, Milagres Paz

Director’s Note
O que me interessou, como em todos os filmes que faço sobre uma pessoa, foi encontrar a forma cinematográfica de Natália.  Como fazê-lo?  intensificando relações semânticas entre planos da peça, do filme  e os materiais do grande arquivo Natália Correia: fotografias, imprensa, crónicas, teatro, obra ensaística e poética… O que me interessou foi suspender o intervalo entre imagens-retratos, sons-retratos, poemas-retratos e decantar uma persona dramatis que a morte não derruba: fica para sempre entre nós. Excede a encenação da pose. É a cicatriz de Natália que permite ver como se imprimiu no mundo: uma forma livre de filosofar e fundar uma metafísica que não se reduz ao sujeito, mas que vem de um lugar inenarrado, que permite resignificar o mundo. Que é  da ordem da poeisis  e quer ser escrito para a posteridade nas palavras de Natália. Para fazer este filme, agora que ela é um fantasma, senti-me obrigada a um contrato com as suas palavras: “ Não sou para epitáfios e nenhum reservo a um poeta que, por passar à condição de morto, não deixa de ser o que era”. Esta frase contém a chave da minha acção cinematográfica neste documentário: o poeta é e existe na obra que fica. Nas memórias que ficam acerca dele. Nos arquivos e acervos que se constituem acerca dele, neste caso da Natália. Fica também a minha empatia por um singular processo de estar no mundo, que não se reduz à femme fatale, diabolique, como o senso comum a etiquetou.  Não obstante imaginar Natália como um fantasma à procura de si, à procura do seu tempo, à procura dos lugares onde passou a vida. Os espaços que escolhi são de algum modo assombrados pela sua ausência. Um fantasma também, por isso volta. Podemos ver e até sentir um fantasma, mas nunca tocá-lo, é certo. O cinema este sim – é o espelho para capturar todos os simulacros. E todas as fantasmagorias dos lugares. O cinema  serve esta divertida promessa: eu projecto o que quero ver, não é uma questão  de crença – é um estado como um fantasma ou a morte. A morte é intocável e não a podemos apanhar, está certo. Mesmo para os vivos há momentos que já estão mortos. São recordações. Como o nascimento: vive-se e morre-se ao mesmo tempo. Qualquer que seja o percurso da vida, o nascimento e a morte são iguais. Já é um fantasma. Um simulacro. Porque é que eu gosto de fantasmagorias se não acredito em fantasmas? O cinema – nesta equação – não se resolve logicamente. É uma máquina poética capaz de captar o arranjo metafísico de uma pessoa – neste caso A Minha Natália. Neste filme têm de encontrar-se duas reflexões, duas sensibilidades, duas dimensões subjectivas: a minha e a dela. Um fiapo coincidente do destino, porque  viajar na vida que nos deixou Natália é, para mim que sou açoriana, mais que tudo, uma coincidência. Eu e Natália. Duas açoreanas que distam  33 anos uma da outra. Que viveram longe da ilhe e viveram o momento mais importante da história recente de Portugal: o 25 de Abril. Mas ela coabitou com os Deuses, inventou o seu mito fundador: Mãe-Ilha. O que quero, neste filme, é conviver com a minha Natália, que tinha saudades do seu húmus natal… que tinha saudades da sua mãe… que tinha saudades de qualquer coisa que a poesia foi capaz de entrever. E que espero que este filme seja capaz de espreitar… Um filme é sempre uma viagem. Algo insubmisso, como é a poesia.   Filmar não é uma acção neutra, é uma questão de gosto, por isso repousa nas escolhas técnicas e artísticas a escrita deste documentário. Os planos de cinema fazem-se, experimentando-os, como a escrita se faz escrevendo. E, neste processo, não pretendo formular uma gramática, mas sim definir o tom do filme que aceite a encenação da minha intromissão no passado de outra pessoa que emerge no presente – que aceita a potencialidade mítica do real, tão ao gosto da Natália, sem perder o pé… sem perder o pé

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